Outro olhar sobre Exposição

Como a ideia do cenacuritibana é promover o diálogo e a reflexão sobre a produção teatral de Curitiba, gostaria de sugerir a leitura da análise da jornalista e amiga Helena Carnieri sobre o espetáculo Exposição, em cartaz no Novelas Curitibanas e sobre o qual já falamos aqui. O texto da Helena foi publicado ontem, quarta-feira (08), no jornal Gazeta do Povo e traz uma perspectiva diferente sobre o espetáculo que tem agradado bastante o público.

O ator Eduardo Simões em Exposição.Foto: Leco de Souza/Divulgação.

O fervor criativo em exposição

HELENA CARNIERI, REPÓRTER DO CADERNO G

Um bom trabalho de pesquisa artística se mostra quando o resultado final permite que o espectador o acompanhe do início ao fim sem ter a mínima ideia de quais são as fontes daquilo tudo. Assim é Exposição, em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas.

A origem da obra está na correspondência trocada entre os artistas plásticos Hélio Oiticica e Lygia Clark nos anos 1960, em que falam de suas inquietações e se atualizam mutuamente, ele no Rio de Janeiro, ela em Paris. A partir das cartas, integrantes do coletivo Couve-flor e convidados criaram cenas, ora remetendo à biografia dos artistas, ora questionando o próprio ato de se partir de referências para embasar um espetáculo.

É possível simplesmente se divertir com as ideias propostas pelo grupo. Quem chegar sem ter “lido as referências” poderá fazer uma rápida lição de casa no hall de entrada do teatro, com o ótimo programa da peça.

Ao longo dos 100 minutos de duração, são utilizados conceitos que embasaram a obra da dupla de artistas plásticos – que nunca é citada. Em alguns momentos, suas ideias estão no que é dito; em outros, na estrutura do que é apresentado, como quando dois atores apresentam cenas paralelas. Happenings.

Um pouco do making of do espetáculo será apresentado hoje, em leitura + vídeos + música + comida, às 19 horas, no próprio Novelas.

São vídeos e filmes aos quais o grupo assistiu durante o processo, ao som da Tropicália que embalava a época pesquisada, além de gravações dos ensaios e até cartas trocadas entre eles próprios, numa espécie de amigo secreto que homenageia a cumplicidade e o fervor criativo de Hélio e Lygia.

Exposição

Teatro Novelas Curitibanas (R. Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco), (41) 3321-3358. Quinta-feira a domingo, às 20 horas. Entrada franca. Até 26 de agosto. Classificação indicativa: 18 anos. Leitura dramática hoje, às 19 horas.

6 Comentários

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6 Respostas para “Outro olhar sobre Exposição

  1. Anônimo

    “Um bom trabalho de pesquisa artística se mostra quando o resultado final permite que o espectador o acompanhe do início ao fim sem ter a mínima ideia de quais são as fontes daquilo tudo.” Esse é o tipo de afirmação generalizante mais facilmente contestável, cuidado. Por que não pode haver um bom trabalho de pesquisa artística que revele suas fontes no fim?

    • Concordo com o ponto de vista, mas entendo a Helena. Muitas vezes, temos textos repletos de referências que não são comuns a todos os espectadores e, justamente por isso, não temos a compreensão da peça como um todo. Em outras palavras, se uma peça precisa das referências para ser entendida, ela pode perder seu peso para o público – e muitas vezes sua relevância, na minha opinião. Quando um texto se faz palatável, se faz entender, sem que as referências sejam necessárias (e isso não significa que a peça se torne fraca ou simplista), o espetáculo ganha pontos – e também ganha a plateia, que o acompanha e o entende, apesar de não ter claras as referências. Neste sentido, o trabalho em Exposição é interessante (e revela este bom trabalho de pesquisa de que fala a Helena) por apresentar um texto repleto de referências, mas muito calcadas naquilo que pretendem passar para o público, sem que as elas, as referências, necessitem ser acionadas o tempo todo. No caso específico, o programa, se lido antes, facilita o entendimento, mas não se faz, de todo, necessário para a compreensão da peça.

  2. essa história de “não é comum a todos os espectadores” é muito chata. Parece que tudo que o artista faz tem que ser novela das 9. Novela é comum a todos os espectadores.

    • Oi, Ricardo. Obrigado pelo comentário. Mas a ideia do “comum a todos” não é ser simples ou fácil. Ser comum é se fazer entender. Este mérito, inclusive, o tem os grandes. Desde Shakespeare. Não acho que ser comum seja chato, mas uma tarefa.

      • mas qual é o parametro? O Artaud (por exemplo) não se fez entender em seu tempo.

      • Oi, Ricardo. Eu não conheço o teatro do Artaud e não li o “Teatro e Seu Duplo”, por isso não posso afirmar nada em relação a ele. Em relação ao se fazer entender, o que eu proponho é um entendimento além da referência. Elas são importantes e fundamentais para a construção da peça, mas não seria necessário que, para entendê-la, eu saiba primeiro a referência. Há quem me critique por esta maneira de ver as coisas, afirmando que um dos papéis da arte é justamente instigar o público a buscar a referência e, com isso, ampliar o conhecimento. É verdade, este é um dos papéis que devem ser sempre considerados, mas há formas de fazer isso. Se fazendo entender principalmente. Isso não significa que a arte tenha de ser didática ou fácil. Não é dar o mastigado. E, ainda, não é a palavra que vai me fazer entender as coisas. O teatro físico se faz entender e me diz algo. O absurdo me diz algo. Eles não estão, propriamente, sendo didáticos ou palavreando algo, mas fazendo-se entender a partir da sua proposta, independente de suas referências. Caso eu as conheça, melhor. Se não, posso ir atrás, porque aquilo significou algo para mim. É isso.

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